- O medo de ir ao dentista é comum? Como é que o médico dentista pode ajudar nesses casos?
A ansiedade é comum nos pacientes que procuram clínicas dentárias e, geralmente, está associada a experiências negativas anteriores ou ao medo de sentirem dor durante o tratamento. O médico dentista tem, sem dúvida, um papel fundamental no controlo dessas situações. Atualmente, existem várias soluções para a realização de tratamentos sem dor e dispomos de vários métodos para reduzir a ansiedade pré e intraoperatória. No meu ponto de vista, uma das principais formas que o profissional tem para diminuir o medo do dentista é, justamente, explicar ao paciente que os tratamentos atuais são praticamente indolores. Recentemente publicámos um estudo onde foi possível demonstrar que fornecer informações pré-operatórias através de um vídeo sobre as sensações que o paciente sentirá durante o tratamento permite uma redução significativa da ansiedade e da frequência cardíaca. Em suma, isto mostra que a ansiedade está associada à falta de informação sobre o tratamento ou a um "medo do desconhecido".
- Imagino que o medo do dentista seja um ciclo vicioso em que as pessoas que têm fobia não são tratadas, recorrem ao dentista apenas quando sentem dor e, nesses casos, o tratamento é mais complicado, podendo mesmo requerer uma cirurgia. O que se pode fazer para melhorar a experiência desses pacientes?
Esse é um dos principais problemas com que nos deparamos. De facto, são os pacientes mais ansiosos que costumam requerer tratamentos mais agressivos e complexos. Tal acontece porque estes pacientes evitam as visitas regulares ao médico dentista, o que dificulta a implementação de medidas preventivas e impossibilita o diagnóstico precoce. É óbvio que uma patologia oral numa fase inicial é muito mais fácil de tratar e, portanto, gera menos ansiedade.
Existem várias formas de melhorar a experiência desses pacientes. O paciente deve sentir-se à vontade na clínica dentária desde o início. Para isso, devemos recebê-lo adequadamente, podemos utilizar música ambiente relaxante, uma sala de espera confortável, etc. Depois, existem várias estratégias não farmacológicas que podem reduzir significativamente o grau de ansiedade durante o procedimento. Nos últimos anos, realizámos vários estudos a esse respeito e observámos que as técnicas de distração melhoram a experiência geral do paciente. Um dos exemplos mais ilustrativos desta afirmação é um estudo publicado recentemente pela nossa equipa, no qual se observou que a taxa de re-anestesia de pacientes que usaram óculos audiovisuais durante a extração de terceiros molares foi muito menor do que a taxa do grupo de controlo (53% Vs 13%).
No entanto, gostaria de enfatizar novamente a importância de explicar o tratamento ao paciente e esclarecer todas as suas dúvidas. Não se trata de explicar os aspetos mais técnicos do procedimento, mas é preciso dedicar algum tempo a explicar as sensações que o paciente poderá sentir. Por fim, acho que a empatia do profissional também desempenha um papel muito importante na redução da ansiedade.
- É comum sentir dor após uma cirurgia?
Qualquer intervenção cirúrgica gera danos nos tecidos que desencadeiam a dor. Trata-se de uma resposta fisiológica normal. É importante destacar que algumas cirurgias, como a extração de terceiros molares inclusos, sempre estiveram associadas à dor pós-operatória moderada ou intensa. Com efeito, muitas empresas farmacêuticas utilizaram esta intervenção cirúrgica para demonstrar a eficácia e segurança dos seus fármacos. Felizmente, hoje em dia existem no mercado diversos analgésicos e anti-inflamatórios que nos permitem controlar muito bem a dor no pós-operatório. Na verdade, eu diria que, na grande maioria dos casos, os pacientes terão um pós-operatório quase indolor.
- Quanto tempo dura a dor e o desconforto após uma cirurgia?
Em geral, a dor atinge o seu pico 6 a 8 horas após o término da cirurgia e pode durar 2 ou 3 dias. É comum o paciente começar a sentir um primeiro desconforto após 2 horas, o que coincide com a perda de eficácia do anestésico local. No entanto, tal como referi anteriormente, podemos utilizar vários medicamentos para reduzir significativamente os sintomas do paciente. Nesse sentido, o uso de AINE (ibuprofeno, dexcetoprofeno etc.) isoladamente ou em combinação com analgésicos puros (paracetamol, metamizol etc.) permite eliminar a dor no pós-operatório na grande maioria dos casos. Por outro lado, os corticosteroides também podem ser úteis em casos específicos, nos quais se prevê a ocorrência de um grande edema pós-operatório.
- Na sua opinião, qual é o futuro da anestesia local no tratamento da dor pós-operatória? Existem alterações?
Há muitos anos que conhecemos o conceito de analgesia residual em anestesia local. Trata-se de um efeito muito útil na cirurgia oral, pois permite retardar o aparecimento da dor pós-operatória e reduzir o seu pico máximo. No que diz respeito a este tópico, a bupivacaína é um anestésico muito interessante por ter uma ação ultra longa.
Na minha opinião, o uso de anestésicos de ação prolongada ou ultra longa pode ser uma estratégia muito interessante para a prevenção e o tratamento da dor pós-operatória intensa.